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Determinismo psíquico

Atuando como outro grande pilar da psicanálise, o determinismo psíquico, ou princípio da causalidade, nos ensina que tudo o que se desenvolve na psiquê é decorrente de um evento anterior, comumente oriundo da infância do indivíduo, eliminando a descontinuidade da vida mental, e o conceito de coincidência, numa ininterrupta cadeia de conexões de eventos anteriores que determina nossos afetos e a maneira com a qual nos relacionamos em nossa versão atual.
Na teoria Freudiana, o esquecimento e as perdas não são obras do acaso. Pequenos esquecimentos em um processo de análise podem denotar qual o desejo ou a intenção determinantes, muito além daquilo que percebemos, sendo a ordem do inconsciente a que faz com que as coisas aconteçam, ainda que chamemos de acaso.
Outro fator importante do determinismo se manifesta através dos sonhos, que são imagens encadeadas, consequência de eventos psíquicos anteriores e que se relacionam de maneira simbólica, e muitas vezes significativa , com a biografia e desejos inconscientizados do indivíduo.

Dentre os fatores que são desencadeados pelo determinismo psiquico, estão os sintomas, visto que mente e corpo são únicos e interligados. Quando um pensamento, um esquecimento, um sonho ou um sintoma não parecem se relacionar com o que aconteceu antes, significa que este processo de encadeamento é da ordem do inconsciente, que determina tudo o que pensamos e dizemos.

Freud apontava que muitas pessoas contestavam a suposição de um determinismo psíquico, alegando sempre o conceito de livre arbítrio, mas até mesmo esse sentimento, considerado por Freud como um sentimento “normal”, é passível de explicação, pois existe algo que o justifica: “Pelo que posso observar, porém, ele não se manifesta nas grandes e importantes decisões da vontade: nessas ocasiões, tem-se antes o sentimento de compulsão psíquica, e de bom grado se recorre a ele. Por outro lado, é justamente nas decisões indiferentes e insignificantes que se prefere asseverar que teria sido igualmente possível agir de outra maneira, que se agiu por uma vontade livre e não motivada (Freud, 1901: 250).”

Sendo a repetição do sintoma o demonstrativo de algo fixado, que há uma certa estrutura, como acessar esse invariável , apenas com seus fragmentos ficcionais e contingentes do inconsciente? Não há linearidade nessa questão, o inconsciente é atemporal e se move para o passado, presente ou futuro, características atribuídas por Freud ao conceito do livre arbítrio, que encontra sentido na vida consciente, ela logo perde seu espaço quando passamos a dar crédito à existência de uma vida psíquica que não se organiza de maneira caótica e misteriosa, mas sim de maneira determinada, onde se fazem presentes leis e princípios.

Mesmo quando a consciência deixa o sujeito livre de suas funções, ainda assim o sujeito passa a não estar totalmente entregue a uma situação psíquica de liberdade, já que o funcionamento inconsciente não deixou de estar atuante, daí a importância da identificação dos fatores determinantes de cada um, como quando experienciamos situações repetitivas, como nos relacionarmos com pessoas que nos abandonam, nos colocarmos em situações de risco com frequência,por exemplo, o determinismo psíquico se manifesta, pois o resultado de tais experiências é resultado de causas anteriores e se não a conhecemos, continuaremos a repetir.

A partir da observação da importância da atuação das forças inconscientes sobre o próprio consciente, a psicanálise fundou-se como uma ciência do psiquismo, admitindo a existência de forças inconscientes e a prevalência destas sobre as conscientes, revelando então a restrição da liberdade consciente do sujeito, mais severa nos quadros ditos “patológicos”, e mais branda nas chamadas psicopatologias da vida cotidiana.

Nosso livre-arbítrio é bem menos livre do que pensamos, ele também é determinado pelo princípio da causalidade enquanto ignorarmos nosso inconsciente.
Ao mergulhar em um processo de análise, o indivíduo se torna aquele que vai poder, através da palavra e do deslizamento das representações, até então no centro de suas vivências traumáticas e recalcadas, direcionar as forças psíquicas para uma para uma situação psíquica cada vez menos angustiante, através do auto entendimento, visto que o indivíduo sem auto conhecimento não está no comando de sua vida, não sendo, portanto, senhor de seu destino age movido por seus desejos mais escondidos, sem sequer saber disso.

Sidney Mora

Terapeuta e Psicanalista